E assim nasceu o "pique-pique"...
Adriano Marrey*

As gerações de bacharéis
veteranos concorreram para a formação do mais rico folclore acadêmico, ou
melhor, para o que se chama de suas "tradições".
Foram os estudantes de uma
turma próxima de 1930 os que criaram, um dia, o popular
"pique-pique", que atualmente todos cantam nos dias festivos.
Poucos conhecem a sua
singular origem. Escreveu Guilherme de Almeida, a que se reportava o querido
amigo Lauro Malheiros, em seu comovente livro de memórias intitulado
"Rosas no Inverno", que três estudantes, da turma que colaria grau em
1927, eram então amigos inseparáveis nas horas de boemia. Um deles – Ubirajara
Martins de Souza – usava um extraordinário bigode de pontas finas e retorcidas
para cima e por isso era apelidado de "pique-pique". Outro, era Mário
Ribeiro da Silva, "inteligência viva e afinado senso de humor" e que
apreciava desconsertar os interlocutores mais austeros, interdizendo no meio das
conversas frases desconexas, como esta : "Veja você, heim? Meia
hora...". O terceiro era Aru Medeiros; e juntos constituíam o grupo do
"Pudim"...
Numa noite em que
bebericavam o seu "chope", no bar Pérola do Douro, sendo aniversário
de Ubirajara, Mário o brindava, gritando: "Pique-pique, pique-pique,
pique-pique". Retrucou, então, Ubirajara: "Meia hora, meia hora, meia
hora". Daí, para emendar com "Rá-rá-tchin-bum", foi um
relâmpago. Estava criado o hino do "Pudim", o grito de guerra de toda
a estudantada.
Recordou Guilherme de
Almeida que "no dia seguinte visitava a Faculdade de Direito o Marajá de
Kapurtala. Entre outras manifestações, recebeu nas bochechas ilustres, berrado
de perto, o primeiro ‘pique-pique’ oficial. Gostou e manifestou alto interesse
pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil"...
Concluiu Lauro Malheiros –
"foi assim que nasceu o 'pique-pique’ em São Paulo. Entre estudantes da
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco".
_______________________* Extraído da oração proferida na solenidade realizada na Faculdade de Direito de São Paulo, pela OAB/SP, em homenagem aos bacharéis em Direito com mais de 50 anos de exercício. O discurso foi depois impresso com o título de "Saudade das Arcadas".
Colaboração pelo envio do post: Vanderlei D Ruiz
